Caiu pela minha terra, encosta levemente inclinada de calçada tortuosa, o espasmo levemente doce da cerejeira, onde em consciência perdida, deixou o fundo buraco da sua raiz.
Almejei um dia tropeçar, mas detive-me com muito medo de nunca cair tão fundo
tão profundamente que não me acharia
eco.
Talvez petrificação, essa cobardia trazida pela vida de agarrar com as unhas e ferrar os dentes no pescoço da razoabilidade que é respirar.
Hoje em dia almejo que as asas nuvens possam cair, sem medo de não regressar.
Pois que pergunto: então e agora?
egoísta
esta gula de nunca mais te ler.
Até um dia destes cereja.
25/3/2015 - em reação à morte do Herberto Helder
1 comentário:
Enumerando por o verso merecer
1."detive-me com muito medo de nunca cair tão fundo
tão profundamente que não me acharia
eco."
na profundeza mais profunda
nenhum som ecoa, nem nossa voz
2. Todo o poema nos detém, sim petrificados,
na sua grandeza significante,
na sua força irrespirável,
talvez até na cobardia que nos provoca a recusa de o explorarmos profunda e plenamente
(inevitável cobardia que nos assoma mal se mostra indiciado o sufoco que subjaz ao verso)
talvez também o medo
de nós também
não sermos capazes de regressar
ao pré-poema
3. Herberto (sim que falta, sim que perda) gostaria certamente,
e eu já tinha saudades de ler aqui,
a poesia inquestionável
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