sábado, 8 de junho de 2013

La Folie


Porventura as palavras batem todas ao lado. Escorregam devagar pelas cordas da discórdia e desaguam no pântano do desengano. Devagar.
(O som que fazem ao cair assemelhasse à explosão de um prédio mundano dos anos 80.)
Porventura as intenções misturam-se e tudo fica cinzento, cor de pó de pedra e infiltra-se em todos os poros da pele e dos olhos para fazer uma lama espessa. Ficamos cinzentos, amargurados, cansados, gastos, velhos. Por fim explodimos e bocadinhos de letras e sílabas explodem pelo ar como os estalinhos que mandávamos em direcção ao chão quando éramos miúdos.
A confusão instala-se e já não ouvimos. Só observamos em câmara lenta as bocas que debitam decibéis de projécteis e pedras para o ar. Ficam a pairar uns segundos enquanto nos batem dentro do cérebro e o transformam em papa. Demasiado ruído, demasiado alto, demasiado ao mesmo tempo. Fugimos. Fugimos a sete pés e pelo meio deixamos cair uma rosa. Fugimos.
(O som que fazem ao rebentar assemelhasse à implosão de uma estrela e tudo fica como as esponjas numa banheira - silêncio.)
O silêncio larga-nos o corpo como a água de um riacho sereno, e devagar ficamos secos, vazios e cheios de pedras. 

D  
r


Porventura quando já tivermos muita sede, voltamos os olhos de lama e choramos a imensidão da loucura com braços de água e deserto.
La folie.

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