sexta-feira, 29 de maio de 2015

A poesia é um fantasma que nos possui e atormenta. Não serve para ordenado, nem para almoço, nem como engate, nem como coisa bonita e de gente sensível. Conheço muito boa alma que tem a felicidade de não ser poeta e ainda bem para eles! 
Não é agradável, não é um marco e também não é necessariamente bonita.
Por isso, façamos de conta que a poesia é como ter sarna. Não convém entrar em contacto directo.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Em homenagem a uma mulher


Amanhã vou crescer muito, durante a noite.
Vou atar infinitos balões ao teu corpo e fazer te sobrevoar as nossas planícies
Lá muito do alto, lá em cima onde se vê o Alentejo quase todo.
Depois, como vou ser muito grande, vou te mostrar que todos os campos são o contorno do corpo,
Que os rios são o sangue e as árvores os pelos e as flores são quânticos resquícios.
As barragens são os olhos. Cheios. Imensos de tudo.
Amanhã quando for muito grande vou te mostrar que ela, afinal, está ainda cá. Que a podes cheirar e que os girassóis que tanto adoras podem ser o corpo para passares a mão e sentires que afinal, ainda cá está.
Porque afinal está, a única diferença é que está dividida em milhares de átomos espalhados sobre o teu Alentejo,
sobre o Minho dela
porque na verdade, meu amor, nunca desaparecemos.
(Os budistas é que tinham razão. É o amor que temos que nos faz reencarnar em coisas tão bonitas como as flores. )
O amanhã ainda não veio e eu sinto me pequenina para te amparar, por isso, transformei te numa pedra para que só sintas amanhã,
quando eu for muito grande, para te poder ter sempre protegido numa concha feita das minhas mãos.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vazio.

A distância atroz de um centímetro
Cúbico
Cubículo
Minusquiculo.

Somos feitos de 99% de vazio.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Registo sem sentido



Caiu pela minha terra, encosta levemente inclinada de calçada tortuosa, o espasmo levemente doce da cerejeira, onde em consciência perdida, deixou o fundo buraco da sua raiz.
Almejei um dia tropeçar, mas detive-me com muito medo de nunca cair tão fundo
tão profundamente que não me acharia
eco.
Talvez petrificação, essa cobardia trazida pela vida de agarrar com as unhas e ferrar os dentes no pescoço da razoabilidade que é respirar.
Hoje em dia almejo que as asas nuvens possam cair, sem medo de não regressar.
Pois que pergunto: então e agora?
egoísta
esta gula de nunca mais te ler.
Até um dia destes cereja.

25/3/2015 - em reação à morte do Herberto Helder