terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sem nome



Exactidão de ti
em memória aguarela de aquário
moldura dos teus olhos, chéri,
a nossa vida antiquário.


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Zanguei-me e atirei-o contra a parede




Espera-me naquele recanto do armário quando a lua procura o sol. Das mãos molhadas agarradas aos tornozelos existe ainda a exactidão do teu corpo e a saudade cresce-me dentro do peito como um medo do teu desencanto.
Não te zangues. Não me atires pela janela porque eu, embora borboleta no nosso jardim, não sei voar a não ser no teu ombro.
Não te zangues. Atira-me contra o tapete negro e beija-me promessa de ser mulher borboleta jardim de primavera dos teus olhos.
Não te zangues. Não me olhes enquanto eu não conseguir encontrar os pedacinhos que parti quando caí. 
Não te zangues. Eu sou do tempo dos contos de fadas, do tempo do cavaleiro branco e, por isso, não consigo dispensar a poesia feita à luz da perfeição e um poema não é perfeito, nunca.

Não te zangues. Eu sou pequenina e o mundo é tão grande...
Não te zangues. Eu preciso de ti, como de pão para a boca.

Não te zangues.
Abraça-me.

sábado, 17 de agosto de 2013

Crua



Não me fales das flores, dos campos, das cores, do arco-íris e das papoilas.
Fala-me da carne crua que levas à boca, das fodas loiras, do esmagamento do ar nos pulmões, da claustrofobia da solidão e da masturbação.
Sussurra-me ao ouvido aquele momento de lucidez que permitiste à loucura.
Lê-me os cantos de maldoror como uma história de embalar e aconchega-me com o manto surreal do teu abraço à meia luz da tua insónia; Escreve no meu corpo a violência do teu tormento com a clareza do som da tua voz.

Dá-me tudo, porque eu tenho uma fome imensa de um universo que espera.