quarta-feira, 27 de agosto de 2014







tu escreves os versos
eu leio-te
estamos onde? no quarto, no quintal
eu penso: -sempre
tu sussurras um unguento
eu escuto-te porque sei o que dizes mesmo quando não te oiço
tu pensas: - está frio, a que distância estará o sol?
eu corro: -vou comprar cartão e o alogénio todo do mundo para te iluminar
tu quiseste uma casa
eu quis uma casa
somos o espaço
tu humedeces os teus lábios
eu penetro nos teus olhos
tu vagueias numa ideia, nas tuas vastas ideias
eu sou a vígilia e a noite clara
tu és o verde e uma cor designada, perfume do meu jasmim
eu espalho as sementes das flores que quero que te cerquem
tu acordas
eu aqueço o leite
tu estendes-te no sofá
eu rejubilo
tu beijas-me
eu beijo-te


sábado, 23 de agosto de 2014

Para além de ler, pensar quem escreve.



Como se um poema fosse uma fotografia, eu tento sempre espreitar pelo outro lado da objectiva para ver quem olha o retrato e o porquê do retrato... é uma espécie de bisbilhotice, como se o poema não chegasse; é sempre preciso saber quem o escreve e porque o escreve.
Que estaria ele, o poeta, a pensar?

Será que o que escreve é uma dissertação duma imagem na retina, ou será um filme; será o tempo do café, ou será um dia inteiro?

E porque é que escreve?

Para mim ler um poema é observar num loop infinito de tempo o próprio acto de escrever, por isso, a morte dos poetas é coisa que não existe enquanto houver a obra e quem os leia.