segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Exercício de conversação enquanto vejo as notícias na televisão



Arraigado no meu coração mora um grilo de nome Trovão.
todas as noites canta e acorda o vizinho de cima,
faz largar beijos a escorrer pelos dedos.
às vezes maltrato-o, sustenho a respiração durante muito tempo
até as estrelas estarem dentro dos meus olhos .
ele é pérfido e perverso, mastiga a moral mundana com seiva de puta.
disse-me um dia que o fazia só para me castigar,
que eu tinha de aprender o que ainda existia de bizarro.
às vezes batia-lhe à porta de casa, aos murros opacos
e de manhã acordava com o coração negro.
pensava eu que seriam farpas, mas não,
o grilo nascia mais um bocadinho.
Ele, resiliente e obstinadamente, à noite, dava-me insónias de verão.


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