quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Lira


Eis-me!
deixo ritmos e espaços nos acordes da lira esquecida
deixo-os nos mil rostos da Noite, donde sorvi luar e água marfim
sempre a Grande Deusa num abraço, segredou-me diamantadas flores, abertas em azul ultramarino, derramou seu vaso de pautas, cadências, colcheias, fios e mantos de sonhos.

Por vezes, em cânticos uníssonos,
brotaram estrelas na continuação dos meus dedos,
pisei pétalas carmim em espaços orvalhados e vi levantarem-se vultos no vidro cristal,
a recriar o eco dos meus sentidos.
Quando as ondas do vento revolveram os grãos de areia,
abateram-se contra as rochas e soltaram as asas,
voaram rente ao pensamento, ela,
a Noite,
a Guardiã,
falou-me do limiar do antigo portal e disse: - Vem!
Conduziu-me pelas mãos.
Conduziu-me pelas ruínas dos claustros,
onde na fonte angular teimam em subir pés de roseira,
cada vez mais nítida a sua voz,
cada vez mais lúcida: - Vem!

Ao longe parece que escuto ainda a lira.
Dele se diz que acompanha a Deusa e as estrelas. Que a sua música abre as nascentes e encanta os seres.
- Vem!

Sinto que posso adormecer.
Sinto que cheguei a casa.






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