segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Manoel de Barros & Edgar Varese


"A disfunção

Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de a menos
Sendo que mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica.

Nomearei abaixo 7 sintomas nos poetas dessa disfunção lírica.

1 - Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 - Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 - Percepção das contigüidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 - Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 - Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 - Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 - Mania de comparecer aos próprios desencontros.

Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância
aos passarinhos do que aos senadores."


De: Manoel de Barros, Tratado geral das grandezas do Ínfimo





Contemporâneos e modernistas, ambas as obras escritas na primeira metade do Séc. XX.

Eis o desafio aos sentidos, ao pensamento, à abstracção, à concentração, à pesquisa.
Eis o desvio à norma e ao facilitismo.
Eis o trilhar de novos caminhos e citando John Cage :

"Eu não quero ultrapassar o muro, quero derrubá-lo".
John Cage



O Belo não pode ser sempre uma mesma coisa. Temos de desafiar a nossa percepção, os sentidos, as emoções e o racional. Temos de saltar no abismo. Parar e escutar por mais de 3 minutos. Ler mais que uma frase.







Sem comentários: