quarta-feira, 5 de março de 2014

Céu de noite



Até um simples Cair de folha
Desenha no ar a tua figura
entre um vidro fino, uma seda
arrastados passos encobertos de noite
desvendamos a filigrana, o teu desenho secreto
um reencontro na luz dos teus olhos
invento uma carícia e seguro-te os cabelos
Poeta e Leão.

Reuni todos os despojos, acorri ao topo do monte
esconjurar tudo e o que não é digno de ti,
um só caminho
por entre cotovias e gentis vinhas
apenas isto, nem perguntas nem cogitações
apenas isto, água
Invoco o louco cometa e astros designados
de um só trago, pronto e penitente, sorvo-te!
abandono na fonte esse torpor, medo
ergo-me e aponto-te lá longe, muito depois do horizonte
solto um uivo, aberto o peito em que te faço minha
e da madrugada vermelha saúdo-te,
o orvalho gelado a reflectir o céu
respirar amanhecer de espanto
no frémito milagre de te fitar assim.


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